Idealizadora da Procissão dos Sanfoneiros, a professora Paulinha Oliveira é uma das vozes mais potentes do forró na Bahia
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| Foto: Oni Sampaio |
Paulinha Oliveira, conhecida como Paulinha Forrozeira, é um dos maiores talentos culturais da Bahia. Natural de Cruz das Almas, ela segue ampliando o legado artístico enquanto atua como professora na rede municipal de Itaparica. Onde mantém uma rotina ativa com os alunos e reafirma diariamente o poder transformador da arte na educação.
Cantora, compositora, empresária, produtora de eventos e ativista do forró raiz, Paulinha se divide entre a sala de aula e os palcos. Mantendo viva a tradição que é parte essencial da identidade nordestina.
Idealizadora da Procissão dos Sanfoneiros, o evento chegou à sua quinta edição, realizada no último sábado, 06, em Cruz das Almas. A programação seguiu com missa, procissão e apresentações musicais de Flor de Imbuia, Mateuzinho do Acordeon, Zé Araújo, Gata Morena, André Barreto. Entre outros artistas, que fortalecem o forró tradicional.
Na Ilha de Itaparica, o forró ainda não ocupa o espaço que merece. Mesmo com o cenário paradisíaco e o grande potencial para manifestações tradicionais. Falta um olhar atento e comprometido com as raízes nordestinas, que deveriam brilhar com mais força na região.
A ligação de Paulinha Forrozeira com a ilha torna esse debate ainda mais pulsante. Professora, artista e uma das mais expressivas vozes do forró na Bahia, Paulinha carrega uma trajetória que deveria ser mais explorada, não apenas pela atuação cultural dela, mas pelo talento raro que a coloca entre as grandes forrozeiras do estado.
Ela reconhece que os obstáculos enfrentados pelas mulheres no forró seguem presentes. Em um ambiente historicamente dominado por homens, as forrozeiras continuam sub-representadas, tanto nos festivais quanto nas grandes festas juninas. Essa disparidade fica evidente nas grades de programação, apesar de a Bahia reunir inúmeras cantoras potentes e talentosas.
Paulinha questiona essa ausência. “Por que essas mulheres não estão nas grades? Elas existem, são muitas, e merecem estar.”
Com firmeza e sensibilidade, ela reforça a urgência de ampliar o espaço das mulheres e fazer do forró um território realmente plural, justo e fiel à tradição que o originou.
Com uma reflexão mais profunda, Paulinha amplia o debate e coloca a cultura no centro da discussão social.
“Ser mulher, ativista da cultura, cantora, forrozeira raiz, compositora, promotora de eventos, empresária e, principalmente, professora formada em música e pós-graduada em cultura. Me faz ver a vida de forma muito diferente.” Afirma.
Segundo ela, essa multiplicidade de papéis mostra que a arte vai muito além do entretenimento. Paulinha enfatiza que a arte transforma a sociedade, promove pensamento crítico e desperta consciência coletiva.
No entanto, ela alerta que a população ainda precisa acordar para as suas necessidades reais.
“Não queremos apenas festa; queremos saúde, educação, emprego, segurança. Não queremos pão e circo.”
Ao falar sobre o forró raiz, Paulinha reforça que defender essa tradição se tornou, mais do que nunca, um ato de resistência. Ela observa que, atualmente, qualquer estilo é chamado de forró, o que dilui a identidade do gênero e enfraquece a história. Por isso, ela argumenta que é fundamental preservar as referências que moldaram o ritmo. “A cada dia que passa, falar ou cantar o forró raiz, que é nossa história, se tornou um movimento de resistência. O que eu sinto é que não sabem diferenciar os estilos, e qualquer coisa é chamada de forró.” Afirma.
Nesse ponto, Paulinha ressalta a importância de estudar e reconhecer os mestres que construíram o legado do forró. “Precisamos estudar João do Vale, Anastácia, Luiz Gonzaga, Dominguinhos, com quem tive a alegria de gravar duas vezes e, principalmente, a rainha Marinês e sua Gente.”
Professora dedicada, artista inquieta e idealizadora de um dos eventos mais simbólicos do forró baiano, Paulinha Forrozeira entende a cultura não apenas como expressão, mas também como compromisso com a memória e com o futuro. Assim, cada gesto, cada canto e cada movimento se tornam formas de preservar o que o povo é e, ao mesmo tempo, de ensinar o que ainda pode ser.
A atuação de Paulinha inspira e provoca reflexão. Ela reforça a urgência de fortalecer o forró raiz, ampliar o espaço das mulheres e proteger tradições que moldam a identidade do Nordeste. Tradições que guardam histórias, saberes e a alma do povo nordestino.
Por tudo isso, Paulinha não é apenas artista. É força cultural que transforma e alcança quem a escuta, seja na sala de aula, na procissão ou em qualquer canto onde o som do forró ecoe. Assim, consolida-se como figura indispensável e profundamente inspiradora para a cultura nordestina, irradiando presença pela Bahia, pela Ilha de Itaparica, por Cruz das Almas e, sobretudo, para muito além.
Fonte: Jornal Atualize


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