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Coluna: Quando o trabalho vira código: a prática do ultramonitoramento no Itaú

 

Foto: Reprodução

O banco Itaú vem dando demonstrações inequívocas de que assumiu o modelo de gestão do lucro a qualquer custo. No início de setembro, a instituição financeira demitiu cerca de 1.000 trabalhadores, amparando as demissões em registros de monitoramento digital à distância.

Além de ter funcionado como estopim de protestos em todo o país no dia de ontem (14), o desligamento em massa acende na sociedade o debate sobre os limites da vigilância digital e do uso de algoritmos para fins de medição da produtividade. A tecnologia avançada, que poderia ser usada como força motriz para melhoria do bem-estar e promoção da qualidade de vida dos trabalhadores, tem se transmutado em um sistema feroz de ultramonitoramento.

De acordo com os bancários demitidos do Itaú, muitos dos quais nem tinham conhecimento de que estavam sendo vigiados à distância, os aplicativos ocultos capturam tempo de digitação, uso de tela, pausas, interações, e até tom de voz em reuniões. O banco chegou a relatar que a inatividade nas máquinas corporativas foi fator decisivo para decidir quem seria dispensado.

Apesar de a instituição repetir o discurso clichê de que quer “oferecer uma experiência digital cada vez mais fluida e personalizada”, é muito óbvio que o motivo das demissões em massa é o mesmo da ameaça de fechamento da única agência do banco em Cruz das Almas-BA. Como bem disse um trabalhador durante a manifestação na porta do escritório na manhã de hoje (15), não há uma justificativa válida para essa decisão, além da ganância.

Não é razoável acreditar que 1.000 pessoas tenham cometido faltas graves no desempenho de suas atividades laborais em uma mesma janela de tempo. O Itaú certamente calculou que estaria enxugando custos ao dispensar essas pessoas. De forma semelhante, ao manifestar sua intenção de fechar a agência no Município, a instituição deixa de realizar investimentos e abre mão de competir com outros bancos pela efetividade nas relações comerciais que ocorrem na cidade, fazendo uma escolha ruim pela lógica imediatista do lucro a qualquer preço, em vez de buscar uma fatia de mercado mais ampla no futuro. Trata-se de um desserviço que desconsidera sobremaneira a possibilidade de crescimento econômico e populacional de Cruz das Almas.

De um lado, a classe dos bancários continua sujeita a condutas lesivas, como metas inalcançáveis, sobrecarga de trabalho, adoecimento mental e vigilância excessiva sobre suas atividades. De outro, os mais de 7.000 clientes no Município correm o risco de ficarem sem atendimento presencial, disponível e humanizado. Parafraseando a CONTRAF, mais uma vez “o banco coloca o lucro acima do compromisso social com o país.”

Convidado da coluna Hélder

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