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Coluna: A COP30 e a urgência da transição justa

Foto: Divulgação 


Delegações de 194 países estão reunidas em Belém do Pará para a COP30, Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, com a missão de discutir os caminhos para frear o aquecimento global. O evento é o principal fórum internacional sobre o tema e tem sua 30ª edição carregada de simbolismo. A Amazônia, bioma representativo da relação da humanidade com a natureza, foi escolhida para ser o centro das decisões mundiais sobre o clima e o futuro do planeta.

As evidências científicas da crise climática são contundentes. O Relatório do Estado Global do Clima, publicado em março pela Organização Mundial de Meteorologia (OMM), agência especializada da ONU, comprovou que 2024 foi o ano mais quente do planeta, desde o início das medições há 175 anos. O relatório também apontou que os últimos 10 anos foram os mais quentes da história. A concentração atmosférica do dióxido de carbono, principal gás relacionado ao efeito estufa, por sua vez, atingiu o nível mais alto dos últimos 800 mil anos. O derretimento das calotas polares, registrado por satélite, a elevação do nível do mar, as ondas de calor recorde no Canadá e na Europa, inundações no sul do Brasil e furacões no Caribe são acontecimentos representativos da emergência a ser enfrentada.

Secas prolongadas e desertificação são fenômenos com impacto direto na alimentação humana, pois arrasam plantações e comunidades, empurrando milhares de pessoas para a fome e a migração forçada. A desigualdade continua como linha de fratura da emergência climática, pois são as populações periféricas que sentem primeiro os impactos da devastação. O deslocamento das chuvas tem consequências na dinâmica social, porque quando a chuva não vem, é a agricultura familiar que perde o sustento; quando vem demais, são os barracos e as palafitas que desabam, são regiões de relevo acidentado das grandes cidades que sofrem com enchentes.

É nesse contexto que emerge a expressão transição justa. O termo designa o compromisso de abandonar gradualmente o petróleo, o carvão e o gás, vilões do aquecimento global, investindo em um arcabouço produtivo baseado em energias renováveis, empregos verdes e direitos sociais para todos, sem que as comunidades sejam prejudicadas. Mudar a matriz energética, reduzindo o uso de combustíveis fósseis e aumentando as fontes de energia limpa como eólica e solar não pode significar desemprego ou exclusão para os trabalhadores. Pelo contrário, a mudança exige planejamento, requalificação profissional e distribuição equitativa dos recursos tecnológicos e financeiros.

A transição justa não pode repetir a lógica neocolonial de um mundo dividido entre quem detém as patentes e quem fornece a matéria-prima. Os países que lucraram com a atividade extrativa ou industrial poluente têm responsabilidade direta no financiamento da mudança. Uma política energética limpa só será possível se os países considerados desenvolvidos compartilharem tecnologias, abrirem patentes e cumprirem com o compromisso de financiar a transição. Caso contrário, o planeta continuará acorrentado ao mesmo ciclo que produz a desigualdade e o colapso ambiental.

A COP30 deve assegurar que o Sul Global tenha acesso a todos os meios necessários para realização das mudanças estruturais correspondentes aos objetivos da conferência. Uma falha nesta década decisiva significará o aumento da temperatura global além do ponto de não retorno. E ninguém quer condenar as próximas gerações a uma Terra hostil e desigual.
Convidado da coluna Hélder

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