Declaração do Vaticano sobre Maria não muda ideia da Igreja Católica, mas evita questionamentos equivocados, dizem especialistas
Uma nova nota publicada pelo Vaticano nesta semana reacendeu debates sobre o papel de Maria na fé católica. O documento, aprovado pelo Papa Leão XIV, afirma que Jesus é o único Salvador e desaconselha o uso do título “corredentora” para a mãe de Cristo. A publicação gerou repercussão entre religiosos e estudiosos.
O g1 conversou com três especialistas para entender o significado da nota e o impacto da declaração.
De acordo com os entrevistados, o documento não altera a doutrina católica, mas apenas busca encerrar uma antiga discussão entre figuras da Igreja. Para dois deles, no entanto, a publicação também pode servir como uma resposta a questionamentos equivocados de pessoas de fora da igreja, especialmente de outras religiões que podem não compreender a interpretação cristã do papel de Maria.
Apesar de o documento buscar encerrar debates, a repercussão acabou gerando dúvidas entre alguns fiéis, segundo os especialistas ouvidos. Veja, abaixo, o que eles disseram.
Filipe Domingues, jornalista e analista de Vaticano: 'É um esclarecimento, não uma restrição à devoção mariana'
“Segundo a Igreja, Maria tem papel essencial nesse projeto de salvação, mas não é a protagonista. Ela participa da missão de Deus, mas não é a salvadora. A Igreja reforça que Maria é 100% humana, escolhida e purificada para ser mãe de Jesus, mas não possui natureza divina. Dizer que Maria é ‘corredentora’ colocaria ela quase no mesmo nível de Cristo, como uma parceira na redenção. A Igreja entende que isso não é teologicamente correto.”
“No documento, a Igreja incentiva a devoção a Maria, mas deixa claro que ela não é salvadora. O documento apenas reforça um princípio teológico já existente: a salvação vem somente de Cristo.”
“Alguns títulos ou expressões surgem no cotidiano e acabam sendo usados sem reflexão teológica. Quando ganham repercussão, o Vaticano intervém para esclarecer. Foi o que aconteceu agora. No caso, havia fiéis e teólogos pedindo esclarecimentos sobre o título de ‘corredentora’. O Papa Leão XIV aprovou a publicação, que já vinha sendo preparada no pontificado de Francisco. É apenas um esclarecimento, não uma restrição à devoção mariana. Pelo contrário: o Papa Leão pediu neste mês de outubro — o mês de Maria — que os fiéis rezem o terço diariamente pela paz.”
‘Nota não muda nada na Mariologia’, diz Dom Murilo Krieger, arcebispo emérito e membro da Academia Brasileira de Mariologia
“O título oficial do documento é ‘Nota doutrinal sobre alguns títulos marianos referidos à cooperação de Maria na obra da Salvação’. Essa nota não muda nada no papel de Maria na Igreja. O objetivo é esclarecer títulos que podem gerar confusão.
Por exemplo, sobre o termo ‘corredentora’, o texto afirma que seu uso é inoportuno, pois requer muita explicação. O próprio documento ressalta que a participação de Maria quanto à redenção não a torna redentora. Com isso, a Igreja apenas busca evitar interpretações equivocadas sobre isso para católicos menos esclarecidos ou pessoas de outras confissões religiosas. Por exemplo, um evangélico que pode questionar: ‘Mas como assim, se Jesus é o único redentor?’. Essas interpretações surgem porque nem todos conhecem a base teológica da Igreja, especialmente no que diz respeito à teologia mariana. Por isso, o documento declara que é melhor evitar certas definições que possam causar algum problema.”
“Há 30 anos o tema havia sido estudado. Então, provavelmente, o Papa Francisco pode até ter pedido para aprofundar o estudo e preparar uma nota. Assim como fez com uma exortação sobre a pobreza, que o Papa Leão XIV encontrou pronta, ele apenas deu a sua marca, acrescentou algo aqui e ali. Da mesma forma, ele pegou esse texto, viu que era oportuno.
Fonte: G1

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